sábado, 22 de agosto de 2009

Que Onda, Que Festa De Arromba ! - Os 44 Anos Da Jovem Guarda


Olá Súditos !

Hoje, cá estamos nós para comemorar, uma semana depois, os 44 anos da Jovem Guarda e, aproveitando a onda das comemorações pelos 50 anos de carreira do Rei, e o Projeto RC 50 Anos, que temos realizado no blog desde janeiro deste ano, relembraremos mais uma importante fase da carreira daquele a quem chamamos de Rei.

O que ocorre é que, ano passado, no aniversário de 43 anos do movimento, escrevemos uma matéria bastante complexa a respeito do início do programa, que você pode reler aqui, e esse ano não queremos repetir o que falamos no ano passado. Por isso, fomos atrás de detalhes bem pequenos, bem pequenos mesmo, mas que são bem grandes para serem esquecidos, sobre a Jovem Guarda, que não abordamos na matéria do ano passado, e que são pouco conhecidos pelos fãs de hoje. Vamos viajar no tempo ? (Na foto ao lado, Roberto Carlos e o presidente da TV Record nos anos 60, Paulinho Machado de Carvalho)

Pois bem, depois de toda a procura pelos apresentadores, pelos patrocinadores e por um bom nome para o programa (fatos já narrados na matéria do ano passado), estava tudo pronto para o programa estrear. A data já estava definida: 22 de agosto, 16:30.

Ao longo da semana, a chamada para o programa mostrava Roberto Carlos sentado num banquinho, com um violão, tocando "Não quero ver você triste". "Olá, pessoal, aqui é Roberto Carlos. Estarei com vocês na TV Record a partir deste domingo, às quatro e meia da tarde, no programa Jovem Guarda. Espero contar com todos vocês."

Na época, Roberto Carlos tinha apenas um Volkswagen, mas no dia da estreia do programa, um amigo emprestou-lhe um Impala, para que ele chegasse à Record como um ídolo. E ele chegou lá 3 horas antes da estreia. Alisou o cabelo e penteou-os cuidadosamente por 10 minutos. Tomou duas taças de vinho Saint Raphael, relaxando e preparando a garganta. Agora sim, tudo pronto.
O Teatro Record. Palco das Jovens Tardes de Domingo.

Pontualmente às 16:30, as cortinas do Teatro Record foram levantadas, e Roberto apareceu com os cabelos à moda dos Beatles, botas, calça justa, paletó sem gola, pulseira de prata e anéis de ouro e jade. O cantor agradeceu a presença de todos, saudou o público de casa, e começou a cantar Parei na contramão. A primeira música executada em um programa Jovem Guarda. Depois da canção, chegou a hora de Roberto chamar o amigo Erasmo ao palco, e fez um gesto sugerido pelo amigo Jair de Taumaturgo. Curvou o corpo, abaixou a cabeça até a altura dos joelhos, apontou o dedo e disse: "E agora, com vocês, o meu amigo Erasmo Carlos !". Os dois se abraçaram e Erasmo cantou Festa De Arromba. Logo em seguida, chamou a maninha Wanderléa, que veio de calça preta justa, e que estreou no programa cantando Exército Do Surf. Desde o primeiro programa, Wandeca já mostrava uma dança bem sensual.

O trio ficava no centro do palco. Cantavam muito e falavam pouco. Chamavam os convidados que entravam pela direita e saíam pela esquerda. O programa era exibido ao vivo para São Paulo, e em videoteipe em outras capitais. Roberto relembra que teve sua camisa rasgada no primeiro programa, e que ficou impressionado, pois não sabia que era "exatamente assim".

Aos poucos, o elenco do programa foi se formando. Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, The Fevers, Prini Lorez, Jerry Adriani, Os Incríveis, Ed Carlos, Trio Esperança, Silvinha, Rosemary...

O programa era apresentado da forma mais natural possível, trazendo, inclusive, gírias que os cantores ouviam nas ruas e achavam interessantes, levando-as para o programa. "É uma brasa, mora?" e "Barra limpa" eram algumas das gírias usadas durante o programa. É importante ressaltar que o uso de gírias na TV daquela época não era comum. O primeiro programa a usar isso foi o "Jovem Guarda".

Roberto e Erasmo, durante o programa, faziam algo também interessante: liam cartas de alunos que reclamavam dos diretores de suas escolas, pois eles não deixavam que os estudantes cabeludos entrassem na escola. O Teatro Record inteiro vaiava o diretor que, quase sempre, na segunda feira, era entrevistado pela televisão. Aquelas granadas fictícias que Roberto atira com as mãos no filme Roberto Carlos Em Ritmo De Aventura (enquanto canta Você Não Serve Pra Mim), Roberto já usava no programa, atirando granadas fictícias no rumo da plateia, e tapando os ouvidos, em seguida. (Na foto ao lado, a logomarca da turnê de Roberto Carlos em 1966)

Pouco tempo depois da estreia do programa, saiu o novo disco de Roberto Carlos, o LP Jovem Guarda, que, com esse título, promoveria o programa, e seria promovido por ele. O LP trazia grandes canções, entre elas a bombástica Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, que, quando lançada, explodiu no Brasil inteiro. Por mais que Parei Na Contramão e O Calhambeque tenham feito sucesso antes, Quero Que Vá Tudo Pro Inferno foi o primeiro grande hit de Roberto Carlos, e alavancou os índices de audiência do programa, que subiram de 15% (estreia em 22 de agosto) para 38% (abril de 1966).
Na foto, a prova que Elis Regina, Wilson Simonal, Jair Rodrigues e Jorge Ben já estiveram no programa "Jovem Guarda".

A publicidade se apropriava dos bordões e gírias em anúncios que diziam: "Está uma brasa a nossa liquidação". Uma churrascaria de São Paulo estampava na porta de entrada: "Aqui o churrasco é feito na brasa, mora!". Isso sem falar na exploração da imagem fotográfica dos artistas e até de seus familiares. Nas bancas de jornais era comum encontrar à venda fotos de dona Laura, mãe de Roberto, ou de dona Diva, mãe de Erasmo.

Muitas empresas quiseram patrocinar o programa, e muitas, inclusive, receberam recusa, o que não as impedia de usar a marca Calhambeque ilegalmente, uma vez que a fiscalização não era tão boa. Roberto até parou de cantar a música, para não fazer propaganda. Ouça aqui, com exclusividade do blog, alguns áudios interessantes. Uma propaganda das Calças Calhambeque que alerta os fãs para que não comprem calças sem "a etiqueta dourada", que era a marca do produto original.


Roberto Carlos fala sobre o primeiro ano de aniversário do Jovem Guarda


Foi durante um programa Jovem Guarda, inclusive, que Roberto conheceu Cleonice Rossi, a Nice, sua primeira esposa.

O palco era constantemente bombardeado por flores e objetos. Estes, disputados por cantores, contrarregras, sonoplastas...


No dia 17 de abril de 1966, uma festa de arromba ! A comemoração pelo aniversário de 25 anos de Roberto Carlos, que só seria oficialmente dois dias depois, numa terça feira. Mas o programa especial não foi gravado no Teatro Record, mas no Cine Universo. Tinha 4354 lugares, e era o maior espaço possível para a gravação de um programa de auditório, em São Paulo. Todos os ingressos esgotaram-se com dias de antecedência, e foram disputados a tapa. Foram vendidos ingressos extras, e muita gente ficou de pé. Lá fora, mais de 15 mil pessoas. Um deles era Ricardo, o pai de nosso querido Rafael Avena, repórter aqui do blog. Sim, seu Ricardo tava lá no meio ! Soldados do exército e da aeronáutica foram convocados. Foi a maior histeria coletiva que já havia ocorrido por um artista na história do Brasil. Os beatnicks abriram o programa, e lembram que iam cantar Help dos Beatles. A única palavra da música que conseguiram ouvir direito foi o Help que inicia a canção. Ângela Maria, Cauby Peixoto e Nelson Gonçalves também se apresentaram, sem falar em cachê. O calor chegava aos 50 graus, e o teto removível do cinema teve de ser removido, o que pouco melhorou na temperatura. Muita gente passando mal, e Roberto chorando durante todo o programa. "Foi realmente um dos momentos mais emocionantes da minha carreira. Eu jamais posso esquecer o que vivi naquela tarde de domingo no Cine Universo." Acima e aos lados, fotos da festa. Abaixo, o teto removível do cinema.


Em agosto de 1966, Roberto foi convidado pela RTP (Rádio e Televisão Portuguesa) para um especial em vídeo (detalhe: esse especial completo consta em nossos arquivos). Roberto viajou para Portugal domingo à noite, logo depois do programa Jovem Guarda. Erasmo Carlos considera esse o momento mais emocionante daquele tempo. Muita gente acenando para o Rei, no aeroporto de São Paulo, e muita gente o esperando e gritando seu nome em Portugal, fato que Roberto não esperava. Ao lado, foto de Roberto Carlos com Dedé (bateria) e Bruno Pascoal (baixo), os músicos do RC-3, que acompanharam Roberto Carlos na apresentação no RTP. O Rei, na época do RC-3, além de cantar, tocava guitarra. "Pega Ladrão", "História de um homem mau", "Quero Que Vá Tudo Para O Inferno", "Parei Na Contramão", "Não Quero Ver Você Triste" e "Coimbra" foram algumas das canções presentes nesses 20 minutos de Roberto Carlos em Portugal. O programa se chamava Canção É Espetáculo.

Em dezembro de 1966, os cantores da Jovem Guarda fizeram a campanha "quero que você me aqueça nesse inverno", na qual arrecadaram agasalhos para pessoas que passariam o natal com frio. Um gesto de bondade e solidariedade daquele programa. Na foto ao lado, Roberto Carlos promove a campanha, durante um programa.

Na verdade, o Jovem Guarda foi apenas mais um - e o mais bem-sucedido - entre vários outros musicais que eram levados ao ar nas emissoras de tevê da época. E, em vez de só congraçamentos e abraços, havia também competição entre os programas e entre os artistas participantes. Ronnie Von e Eduardo Araújo, por exemplo, nunca cantaram no Jovem Guarda, pois tinham seus próprios programas. Ronnie foi contratado primeiramente pela Record, mas depois descobriu que a emissora só fez isso porque tentou anulá-lo como artista, e logo trocou a Record pela Excelsior, onde teve o programa "O Pequeno Mundo De Ronnie Von". "Era uma dificuldade conseguir alguém para vir ao meu programa, pois todos preferiam cantar no Jovem Guarda.", protesta Ronnie.

Entretanto, com o tempo, a Jovem Guarda foi criando quedas de audiência. Primeiro, por superexposição de mídia. Segundo, pela falta de organização. E terceiro, por causa de um novo programa que surgia nas tardes de domingo, e que está no ar até hoje. O Programa Sílvio Santos.

Tudo aquilo fez com que Roberto Carlos se despedisse do programa na tarde de 17 de janeiro de 1968. Na despedida, terno azul-marinho. Cantou Quando e chamou Wanderléa, que agradeceu a amizade de Roberto durante o programa, e cantou Te Amo com a voz embargada. E era assim com todos os cantores. Entravam, despediam-se de Roberto Carlos, e cantavam um número musical, quase sempre com voz embargada. Roberto cantou a sua nova música, Como É Grande O Meu Amor Por Você. Silêncio absoluto na plateia. A produção do programa tinha entregado a Erasmo Carlos um texto para ele ler no momento de despedida do companheiro. "Você, Roberto, não está deixando vago o seu trono de rei da jovem guarda para que este seu amigo tome posse dele. O trono é seu e ninguém vai ocupá-lo. O que vamos procurar fazer é continuar sua luta...", e o texto prosseguia com mensagens de agradecimentos e desejo de boa sorte na nova fase que começava para Roberto Carlos. Mas Erasmo não conseguiu ler nada na hora. Inconsolável, tirou um enorme lenço e soluçou profundamente, enquanto o parceiro o abraçava. O RC-7 tocou a Valsa da Despedida, com todo o elenco do programa no palco, cantando. Exceto Roberto, Erasmo e Wanderléa, que choravam copiosamente. Logo em seguida, RC cantou Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, encerrando o programa.

Erasmo e Wanderléa levaram o programa adiante, até junho daquele ano, quando o programa, definitivamente, acabou. Na época, Roberto fez a seguinte declaração:

"A Jovem Guarda não acabou só porque um programa com o seu nome saiu do ar. Isto não quer dizer que o movimento acabou. O Programa Jovem Guarda cumpriu suas finalidades, e até ultrapassou a expectativa desse movimento.
Jovem Guarda quer dizer renovação, porque é sinônimo de juventude. É como uma corrida de revezamento, entende? Um vai passando o bastão para o outro, só que esta corrida não tem fim, porque a juventude é eterna, dinâmica, e, graças aos Céus, tem sempre fome de coisas novas."

Mas todos diziam (e dizem) que Roberto fez bem em sair antes da Jovem Guarda, pois reciclou sua imagem como artista e, poucos dias depois, venceu o Festival De San Remo, consolidando-se como ídolo do Brasil, e não apenas da juventude. Mandou bem, né?

Próxima Matéria
Próxima sexta, nossa matéria será relacionada à temporada que o Rei está fazendo em São Paulo. Teremos um enviado especial ao show de hoje, 22 de agosto. O repórter Rafael Avena vai mandar informações do show, que serão publicadas amanhã cedinho!

Na OUTRA sexta (28/08)
daremos destaque ao novo lançamento do maestro Eduardo Lages, Nossas Canções.

Compre CDs e DVDs de Roberto Carlos !


Esta matéria pertence ao projetoProjeto RC 50 Anos • Blog *Roberto Carlos Braga* Leia mais sobre esse projeto clicando aqui.

PS: Matéria bem extensa, mas valeu a pena escrever, e vale a pena ler !

3 comentários. Clique aqui para comentar!:

Rosario Mendonza disse...

Amigo James y equipo del blog:
¡Felicidades por todos esos recuerdos del inicio de la carrera del Rey Roberto Carlos!,que momentos tan felices pasaron en esos programas de televisión.
Gracias por tan lindas fotografias del Rey Roberto Carlos.
Que Dios los siga bendiciendo siempre.
Un saludo afectuoso de:
Rosario Mendoza

Cecilia Mendonza disse...

Hola que tal James:
¡¡¡¡¡Muchas muchas felicidades!!!! por los 44 anos da Jovem Guarda!!!!, excelente la reseña que hiciste del los programas siempre nos haces sentir como que estuvieramos allí,cada detalle que resumes es maravilloso.
Estaré sumamente al pendiente el día 28 de agosto ya que vas a hablar del
Novo lançamento del CD del Maestro Eduardo Lages "Nossas Cançoes" será fantastico como todo lo que hace el Maestro!!!.
¡¡¡¡¡Un fuerte abrazo lleno de cariño!!!!!.

francisco carlos disse...

queria enviar um desenho q fiz do rei como faço?