domingo, 15 de janeiro de 2012

Análise de Disco - O Inimitável (1968)

Esta matéria contém:

  • Análise de Disco - O Inimitável (1968)
  • Rei na Itália.
  • Depois do Fashion Rio, Píer Mauá recebe o Rei Roberto Carlos!.
Olá Súditos!

Hoje, cá estamos, depois de nosso recesso de 15 dias, para dar continuidade a este blog. Nosso servidor tem apresentado alguns problemas, devido ao início de algumas mudanças que vamos fazer por aqui. Em breve, tudo estará normalizado.

Na matéria de hoje, a primeira do ano de 2012, Pedro Mülbersted, membro da equipe deste blog, analisa o disco O Inimitável, lançado por Roberto Carlos em 1968. Aproveitamos para anunciar que, a partir deste ano, as análises de discos serão mensais. Uma grande oportunidade de acompanhar o melhor que Roberto tem feito em gravações. Convidamos você para esta excelente leitura.

ROBERTO CARLOS, 1968: O INIMITÁVEL

Em 1968, Roberto Carlos lançou o seu 9º disco, “O Inimitável”. E o disco faz jus ao título! O exemplar que vamos analisar aqui é um verdadeiro divisor de águas na carreira do Rei, quiçá um marco na música popular brasileira – e, por que não?, mundial. Nele podemos sentir os rumos que o Rei daria em sua carreira, depois da Jovem Guarda, além da nítida influência das transformações pelas quais o mundo passava naquele contexto. Vamos entender o porquê! (Foto: Roberto Carlos em abril de 1968, com o bigode característico daquela época, que ele usou por alguns meses daquele ano. Arquivo Blog RCB)

No ano de 1968, muita coisa estava acontecendo ao redor do mundo. A juventude dá um grito ainda maior de afirmação no movimento da Contracultura, manifestando-se de maneiras diferentes ao redor do mundo: na França, adquire um tom político no maio de 68, onda de protestos contra o presidente De Gaulle; nos Estados Unidos, é a explosão do movimento hippie, movimento negro, o pacifismo fazendo frente à Guerra do Vietnã; na América Latina, os movimentos estudantis (e de esquerda, de modo geral), opunham-se ferrenhamente contra as ditaduras que pululavam em todo o subcontinente – assim como no Brasil. Em terras tupiniquins, cada vez maior era o número de pessoas nas ruas protestando contra a situação política do pais, em um contexto que gera ricos debates até hoje (seja no meio acadêmico, na mídia, em conversas de MSN, etc.). De modo geral, uma coisa é certa: estava em voga a libertação, a afirmação, a busca de uma nova identidade diferente de tudo que tínhamos até então, o rompimento com os padrões sociais e culturais vigentes – a juventude se parecendo muito mais com o seu tempo do que com seus pais.

O mundo da música refletia esta onda de mudanças pelo mundo. O Rock se tornava cada vez mais Psicodélico, com bandas já renomadas como os Beatles, Rolling Stones, Hollies, etc., apostando em um som cada vez mais experimental; novos artistas – hoje consagrados – também surgiam, como Jimi Hendrix, The Doors, Pink Floyd; a música negra americana também ganhava cada vez mais espaço na mídia, dando espaço para a Soul e Funk Music. Os artistas tinham muito mais espaço criativo para inovações, beber em novas fontes – ou seja: na música, a libertação e o rompimento com o tradicional também estava em alta. (Foto: Roberto Carlos em 1968, com a guitarra, símbolo do movimento Jovem Guarda, liderado por ele, e futuro símbolo do movimento da Tropicália, que começava a surgir. Arquivo Blog RCB).

E com Roberto Carlos não poderia ser diferente. Como é de seu feitio, Roberto Carlos participou deste movimento da sua maneira singular, isto é, absorvendo as boas influências e transformando-as dentro do seu próprio estilo. Ele com certeza estava muito antenado ao que estava acontecendo naquele momento, como procuraremos demonstrar ao longo desta resenha.

Foi neste mesmo ano que chegou ao fim a Jovem Guarda. Não mais haveriam as jovens tardes de domingo que causaram tanto impacto para a cultura brasileira nos anos 60; Roberto Carlos havia deixado o programa um pouco antes do fim oficial do mesmo, que ficou sob o comando de Erasmo Carlos e Wanderléa ainda por um tempo. Entretanto, este foi um passo muito importante para a carreira do Rei da Juventude (como era chamado na época), representa um rompimento com aquilo que ele vinha sendo desde então; foi uma forma também de ir muito além dos limites que o programa oferecia.

Naquele mesmo ano, Roberto Carlos participou do aclamado Festival de San Remo, na Itália, com a canção Canzone Per Te... e voltou vitorioso! Não foi o primeiro estrangeiro a vencer o festival, mas sem dúvidas o primeiro brasileiro, o que representava muito em uma época em que a imagem internacional do Brasil era de um país “exótico”. (Foto: Roberto Carlos e Sérgio Endrigo, autor de Canzone Per Te, com o prêmio do Festival. Arquivo Blog RCB).

A vitória em San Remo também aponta para outra faceta muito curiosa. O reconhecimento internacional de Roberto Carlos se deu a despeito da crítica brasileira não vê-lo com bons olhos. Para uns, era um “transviado”, um rebelde, uma má influência para a juventude; para outros, um alienado que cantava sobre brotinhos e carrões enquanto estudantes eram presos e torturados, não dava a mínima para a situação política do país; para outros, sua alienação se dava pelo fato dele ser “americanizado”: cantava Rock'n'roll na terra do Samba, não cantava a legítima “música brasileira”. Eu poderia ir além neste assunto, mas não quero desvirtuar o tema desta postagem – além do mais, preparem-se para futuras postagens deste site ao longo do ano, abordaremos o tema com mais propriedade.

Independente disso, Roberto Carlos demonstrou muita personalidade e talento no rumo que deu à sua carreira, a partir desta data. A juventude típica da Jovem Guarda ainda ecoaria por um bom tempo no artista, embora já mesclada com o amadurecimento. Notamos isso também na sua vida pessoal: foi naquele ano que o Roberto se casou com Nice, assumindo uma grande responsabilidade. Na música, o conteúdo romântico se consolidaria, diferente do “amor juvenil” expresso nas canções românticas da Jovem Guarda: não é mais o brotinho, mas a mulher que passa a figurar as músicas compostas pela dupla. Não queremos aqui incentivar uma leitura do passado a partir do futuro, mas, no Inimitável, já vislumbrávamos o grande artista romântico que este se tornaria. (Foto: Paulo Salomão. Roberto Carlos em 1968)

A primeira faixa deste disco já contém todos os elementos que citamos anteriormente. “E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só”, composição de Antônio Marcos, demonstra um claro amadurecimento em relação à produção anterior do artista; a melodia, por si só, casando de maneira espetacular com o arranjo, ligam-se a sentimentos profundos, talvez feito anteriormente pelo Rei apenas em “Eu estou apaixonado por você”, de 1966. “Ninguém Vai Tirar Você De Mim”, segunda música do disco, segue a mesma linha adotada na música anterior: a melodia passa uma seriedade da letra, singela, porém direta.

Mas é “Se Você Pensa” a música que melhor traduz as mudanças na carreira de Roberto Carlos. Um legítimo Funk que contém todos os elementos do estilo, não perdendo em nada para nenhum James Brown: o arranjo pesado, com o grave marcando presença com o baixo, a guitarra rítmica e os metais fortes, aliados à “agressividade” da melodia - dando um tom único à letra igualmente forte. Tudo traduzido conforme o “jeitinho” do nosso ídolo, claro. (Foto: Paulo Salomão. Roberto Carlos, em 1968, com o Jaguar que ganhou da Gravadora CBS, pela excepcional venda de discos, na mansão em que morava na época, no Morumbi).

Mas não quer dizer que o Roberto tenha mudado da noite para o dia. Muita coisa da Jovem Guarda ainda está presente neste disco, como a irreverente “É Meu, É Meu, É Meu”, cuja letra devia causar calafrios às mais extremistas feministas que, também naquele ano de 1968, ganhavam força nas ruas. Porém, se neste aqui temos um risco daquela concepção da mulher submissa ao homem, em “Quase Fui Lhe Procurar” o sujeito deixa o orgulho de lado e reconhece que sofre por amor, pelo fim de um relacionamento com a mulher.

Na sequência, uma música que até hoje é figura garantida no repertório do Rei: “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo”. A canção, que foi um dos maiores (senão o maior) sucesso do disco, marcou aquela geração, que passou a usar, cotidianamente, aquele refrão simples e marcante, porém vigoroso, que nesta gravação ainda conta com um efeito especial: som de telefone! São as inovações do que se fala em música, em 1968. Só para constar, este é mais uma da “safra Soul” do Rei, que só iria aumentar dali para frente.

Seguida por “As Canções Que Você Fez Pra Mim”, uma música mais lenta, quase um lamento, cuja letra fica entre a inocência e o amadurecimento. Canção composta por Roberto e Erasmo por causa de Dedé, percussionista de Roberto. Dedé namorava a cantora Martinha, e, ao término do namoro, em meio a todo o sofrimento, confidenciou ao amigo Roberto que chorava muito ouvindo as canções que Martinha havia composto pensando no casal. Foi o suficiente para uma bela canção da dupla dos Carlos compositores. (Foto: Arquivo Blog RCB. Roberto Carlos dirigindo, com seu irresistível "bigodinho" de 68)

Nem Mesmo Você” é uma música mais singela (não simplória!), mas que contém alguns elementos interessantes: além de mais um Soul deste disco, ainda conta com um solo de gaita acompanhada de guitarra distorcida, ainda uma novidade no Brasil daqueles tempos (novidade introduzida, inclusive, por Roberto Carlos, como será abordado futuramente).

Ciúme De Você”, a próxima do disco, também é um dos pontos altos do play, ao meu ver; outro “Soul real” com uma divertida letra (composta por Luiz Ayrão), que cai como uma luva ao nosso ídolo – assumidamente ciumento. Já a décima faixa, “Não Há Dinheiro Que Pague”, não é uma canção muito comentada mas que me chama atenção. É a música mais pesada do disco, e talvez de toda a discografia do Roberto; aqui o grave mandou ver, tanto no baixo (aliás, que bela linha de baixo!) quanto nos metais. Do ponto de vista da letra, a interpretação dá um sentido complementar à simplicidade da mesma, o que a transforma em uma música direta... e, como tenho afirmado sempre nestas resenhas, Roberto Carlos é mestre na interpretação!

Por fim, “O Tempo Vai Apagar”, canção de Getúlio Côrtes e Paulo César Barros. Uma música suave com letra falando de tristeza e abandono, mas da forma madura que tenho comentado ao longo desta resenha. E “Madrasta”, uma canção muito bonita, suave, que foi composta pra que Roberto participasse de um Festival, o IV Festival de Música Popular Brasileira, em 1968. Os compositores - Renato Teixeira e Beto Ruschell - pensaram no Roberto como intérprete, porque ele estava sendo "padrasto" de uma moça (Ana Paula). Roberto faz uma interpretação muito bonita, suave, como pede a letra e o arranjo - e a canção, apesar de dar boas-vindas, acaba por mostrar um nó de tristeza e angústia. Uma ótima maneira de encerrar um disco como este. (Foto: Arquivo Blog RCB. Roberto Carlos se apresenta no IV Festival de Música Popular Brasileira, interpretando a canção Madrastra.

De modo geral, um disco bem diversificado, que mostra claramente a transição e amadurecimento de Roberto Carlos, como artista e como pessoa. É o marco inicial do que se convenciona chamar de “fase Black” do Rei, que será abordada mais especificamente neste blog no decorrer deste ano.

Próxima Matéria
Próximo domingo, estaremos de volta, com uma matéria sugerida pelo internauta Diego Bachini (RJ) sobre a cantora Maysa, em homenagem aos seus 35 anos de falecimento. Vamos falar sobre como (e quando) as carreiras de Roberto Carlos e Maysa se encontraram, e a relação da cantora com o Rei. Você não pode perder!
Rei na Itália
Jornal EXTRA ( RJ) - 14/01/2012
Publicado por Ana Luiza no BlogRCB - 16/01/2012

Foto: Exclusiva do BlogRCB - Tirada por Ana Luiza Machado


Foi batido o martelo. A Itália será o próximo destino do Projeto Emoções do Rei Roberto Carlos, em 2013. A informação foi confirmada pelo empresário do artista, Dodi Sirena. O cantor ainda sonha com um dueto com João Gilberto.

Depois do Fashion Rio, Píer Mauá recebe o Rei Roberto Carlos!
Oitava edição do projeto 'Emoções em alto mar' ancora no Rio, após saída do Porto de Santos, dia 4

Jornal do Brasil - 16/01/2012 às 14:00
Publicado por Ana Luiza no BlogRCB - 16/01/2012 às 22:25

Foi uma semana corrida, de desfiles, correria, modelos por todos os lados e muita badalação. O Píer Mauá, aos poucos, vai se acostumando com o clima fashionista, a cada edição do Fashion Rio que passa. Mas, após a maratona de moda, o espaço agora se prepara para receber a realeza da música...


Saindo do Porto de Santos, dia 4 de fevereiro, a bordo do transatlântico Costa Pacífico, e ancorando no Píer Mauá no dia seguinte, o Rei Roberto Carlos vai emocionar todos a bordo, mais uma vez, no projeto Emoções em Alto Mar. Na programação, coletiva de imprensa, jantar de gala e, claro, um super show fechando a noite. Será a oitava jornada de nosso soberano sobre as águas.

Compre CDs e DVDs de Roberto Carlos !

5 comentários. Clique aqui para comentar!:

Carla disse...

Muito bacana as análises de discos feitas pelo blog, pois nos permite conhecer um pouco mais a carreira e o que se passava com o nosso Rei.

ana rosalia marques/rj disse...

Parabéns!!!!!! Muito bacana as reportagens.Sobre o disco,O inimitável,adoro,a capa é linda e me leva lá pros meus 14 anos,apaixonada pelo Rei,acompanhava tudo,e esse disco é especial prá mim.
E não sabia que faríamos uma parada no Pier Mauá este ano novamente,o ano passado pela primeira vez aconteceu,os artistas subiram a bordo e a imprensa também,foi um jantar recheados de celebridades do mundo artístico.
Bjão a todos do Bolg,adoreiiiiiiiiii!!!

Robert Moura disse...

Legal a contextualização histórica do disco, embora a influência de Roberto na época tenha sido mesmo apenas musical. Esse é dos meus álbuns prediletos dele. Lembrei de um fato durante a leitura, Roberto Carlos recebeu a visita no estúdio durante a gravação desse disco do jovem Cazuza levado por seu pai João Araújo já um grande executivo do mundo das gravadoras. Cazuza lembrou o encontro assim: "Roberto Carlos é uma pessoa importantíssima para mim, porque faz parte da minha infância. Eu cresci amando a Jovem Guarda. Tinha tudo com a marca Calhambeque, roupa, merendeira e sapato. E um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi quando aos 10 anos meu pai me levou no estúdio da Som Livre, onde Roberto estava gravando." Me parece que a visita se deu mais exatamente durante as sessões da música Se Você Pensa. Em 1996, o Barão Vermelho já sem o Cazuza revistaria uma das músicas d' O Inimitável, Não Há Dinheiro Que Pague no disco "Álbum".

TERESINHA ETERNA DUTRA disse...

NESTE PAIS (BRASIL), NÃO TEM NENHUMA CELEBRIDADE QUE BRILHA COM GRANDE BRILHO COMO O REI ROBERTO CARLOS BRAGA, DESCULPE-ME ÀQUELES QUE ACHAREM RUIM.E COMO CANTOR TAMBÉM NÃO EXISTE! SUAS CANÇÕES É O MOTIVO DA CONTINUAÇÃO DO SEU SUCESSO E A MOTIVAÇÃO DAQUELES QUE SABEM APRECIAREM CADA PALAVRA DE SUA CANÇÃO. PARABÉNS AO NOSSO QUERIDO REI, QUE DEUS PROTEGE-O SEUS CAMINHOS E PARABÉNS A DIRETORA JAMES LIMA !! BJS A TODOS VOCÊS- TERESINHA (GOIÂNIA/GO)

Maria Das Graças. disse...

Roberto te amo desde de menina,eu era uma criança criad m colegio interno e no patio do meu colegio,tinha um alto-falante que sempre tocava as suas musicas de Vanderlei Cardoso e Jerri e Adriani,quando eu sai do colegio interno fiz amizade com duas meninas ai era assim..brincavamos e brigavamos,porque cada uma era fa de uma cantor,mais eu vejo que eu me sinto uma pessoa muito abençoada por Deus e ter o previlégi de hoje poder lhe desejar que o Senhor Jesus Cristo e seu espirito esteja contigo todos os dias de sua vida.Um feliz 2012.Jesus fez o hemem a imagem e sua semelhança como é lindo sentir que alguém tão especial nas nossas vidas possa falar de amor em suas canções com o mundo tão violento hoje desejo de todo meu coração todas as felicidades do mundo,saúde,paz e amor pra você meu lindo idolo.!
Beijos Maria das Graças,no passado Ribeiro Torres e hoje Ribeiro Barbosa.!